Alimentos produzidos no Brasil têm altas taxas de agrotóxicos
23/09/2014 - 10:09
O uso de agrotóxicos na produção de alimentos, tema de debates e projetos de lei na Câmara dos Deputados, é também foco de pesquisas com resultados alarmantes. Estudo realizado pela Universidade Federal do Mato Grosso, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, constatou a presença nos alimentos de 223 princípios ativos de agrotóxicos, dentre os 500 existentes. Segundo a pesquisa, realizada em 2012, 29% das amostras analisadas eram insatisfatórias; 36%, satisfatórias, mas com resíduo; e apenas 35% não apresentavam resíduo.
O estudo também concluiu que o número de trabalhadores com intoxicações agudas por agrotóxico no Brasil dobrou num período de cinco anos: passou de 5 mil em 2007 para 10 mil em 2012. No mesmo período, o número de mortes passou de 200 para 313. O custo do tratamento desse tipo de intoxicação varia de R$ 650 a R$ 26 mil.
Outra pesquisa, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mostra que o alimento campeão de irregularidades é o pimentão: 89% das amostras analisadas em 2011 tinham problemas, a maioria por uso de agrotóxicos não autorizados. Depois do pimentão, aparecem a cenoura, o morango, o pepino, a alface e o abacaxi, dentre os alimentos com maiores índices de irregularides constadadas.
Estudos recentes comprovam que a exposição prolongada aos agrotóxicos causam ataques ao sistema nervoso, ao sistema imunológico, câncer, má formação, além de infertilidade. A ingestão de alimentos com restos de produtos químicos também pode provocar alergias e sobrecarga do fígado, entre outros problemas.
O Brasil é o maior consumidor de defensivos agrícolas do mundo: em 2012, o País consumiu 1 bilhão de toneladas de agrotóxicos e 6,9 milhões de toneladas de fertilizantes químicos.
Plano Brasil Agronegócio tenta transição para modelo sustentável
A Câmara já debateu em audiência pública o Plano Brasil Agronegócio, criado pelo governo federal no fim do ano passado com o objetivo de promover a transição da agricultura brasileira para um modelo mais sustentável, com menos uso de agrotóxicos.
O diretor- executivo de Transferência de Tecnologia da Embrapa, Waldir Stumpf Junior, que participou do debate na Câmara, em julho, lembrou que a empresa já oferece alternativas ao uso massivo de agrotóxicos. “Nós trabalhamos desde a recuperação de plantas, o fortalecimento de sistemas produtivos, a diversificação da matriz produtiva, até o manejo integrado de pragas e a busca de biofortificantes”, apontou.
A presidente da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), afirma que agricultores usam defensivos irregulares em praticamente todas as verduras e frutas produzidas no País.
A deputada Luci Choinacki (PT–SC) diz que a utilização de agro-tóxicos em excesso já foi maior do que hoje. “Não se preparava ninguém para produzir alimento sem veneno. A pessoa saía da universidade preparada para colocar veneno.”
Água e alimentos – Professor do Departamento de Genética e Morfologia da Universidade de Brasília (UnB), o biólogo César Koppe Grisólia sugere ao consumidor que opte por alimentos orgânicos, quando houver opção de oferta e condição financeira, ou lave bem as verduras, frutas e legumes, com água e pequenas quantidades de hipoclorito de sódio (água sanitária). “Pesquisas da Unicamp mostram que, se houver uma boa higienização, os níveis de resíduos podem diminuir.”
O professor ressalta que não é só a qualidade de alimentos que preocupa. “Além de contaminar o solo, o agrotóxico contamina as águas dos rios e das represas que abastecem as cidades. O grande risco, hoje, não é só do alimento, é da água que a população está tomando. A questão fica mais séria.”
Ele cita ainda pesquisas que já comprovam a maior incidência de Alzheimer e Mal de Parkinson entre pessoas que foram expostas a agrotóxicos em algum momento da vida.
Novos agrotóxicos – A Câmara dos Deputados analisa projetos de lei que limitam o uso de agrotóxicos no País. Por outro lado, a senadora Kátia Abreu afirma que os agricultores não podem mais suportar a demora na regulamentação de novos defensivos agrícolas.
Durante o seminário Brasil Novo, realizado pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara Kátia Abreu disse que, em razão do alto custo para registrar um agro-tóxico no País, 99% das verduras e frutas consumidas por brasileiros possuem defensivos irregulares.
Fonte: Jornal da Câmara